Uma nova avaliação sobre os problemas de saúde mental manifestados após as enchentes de maio no Rio Grande do Sul revela que os casos de ansiedade, depressão e transtorno pós-traumático (TEPT) diminuíram, mas ainda são superiores a 30% entre os que responderam ao questionário online. Os dados demonstram que os sintomas surgidos durante as enchentes aumentaram no mês seguinte às cheias, mas vem diminuindo desde então. Nesta terceira etapa foram avaliados 3882 questionários respondidos a partir de 8 de julho, portanto 60 dias após a catástrofe.
Os dados são de pesquisa realizada pela professora do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e da Pós-Graduação Psiquiatria e Ciências do Comportamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Simone Hauck. O levantamento iniciou no dia 6 de maio e pretende acompanhar o desenvolvimento de problemas de saúde mental, decorrentes das enchentes, ao longo do tempo. Para a autora, a tendência de diminuição dos sintomas após um pico inicial sugere uma capacidade positiva da sociedade, em termos de resiliência comunitária e desenvolvimento de estratégias de enfrentamento. “Reações psicológicas após grandes desastres são muito comuns e a informação sobre os sintomas e como enfrentá-los é fundamental. A disponibilidade de suporte e a rede de apoio para quem precisa são os fatores mais fortemente relacionados à diminuição dos sintomas. Isso pode ser feito inclusive pelas pessoas da comunidade”, afirma.
O TEPT – Dos transtornos mentais que podem surgir após uma situação de calamidade, o Transtorno de Estresse Pós-traumático – TEPT – é o menos conhecido, e também o mais comum. Na pesquisa, o percentual de pessoas com sintomas de TEPT caiu de 43%, no período compreendido entre 30 e 59 dias, para 31% no período posterior à 59 dias – queda de 40%. Os sintomas característicos de TEPT são revivência (sentir como o evento estivesse ocorrendo de novo, pesadelos, sintomas físicos quando algo lembra o evento); evitação (evitar pensamentos, lugares e pessoas que lembrem o evento); cognição e humor distorcido (culpa, incapacidade de sentir coisas boas, pensamentos ruins sobre si mesmo, outros e mundo), hiper-reatividade (sintomas de sobressalto, insônia, agressividade, impulsividade, crises de ansiedade) e desrealização (sentir estranheza em relação à realidade, como se tempo estivesse passando de forma diferente ou que você está se vendo de fora). Para a autora, a pesquisa sugere que, embora os sintomas de revivência sejam os mais associados pela população ao TEPT, a evitação, que permaneceu no mesmo patamar, também é bastante característica do transtorno. “Se não enfrentada, a evitação pode impedir uma recuperação completa”, explica Simone.
O retorno às atividades cotidianas, o reforço da rede de apoio, o exercício físico, a alimentação saudável e a melhora do sono são centrais para que a percepção da vida se normalize. “Quanto antes for enfrentado, maior a chance de voltar ao funcionamento habitual”. Estamos em um ponto fundamental desta janela de oportunidade. Após um ano (do início dos sintomas) é muito difícil”, alerta a pesquisadora.
A pesquisa também monitorou os fatores de risco para o surgimento de traumas. O mais importante, principalmente para TEPT, é quando a pessoa sentiu que precisava de apoio, mas não foi atendida. Em seguida, vem o fato de ter sido diretamente afetado pelas cheias. Na variável renda, os que ganham até R$ 3000,00 mensais correm mais risco de desenvolver o transtorno. (fonte: Assessoria de Imprensa Hospital de Clinicas).